Dirigido por Caroline Fioratti, o filme nacional Meu Casulo de Drywall tenta abordar a saúde mental dos adolescentes contemporâneos.

Meu Casulo de Drywall: uma bolha de privilégios e saúde mental

Dirigido por Caroline Fioratti, o filme nacional Meu Casulo de Drywall tenta abordar a saúde mental dos adolescentes contemporâneos, trazendo Virgínia (Bella Piero) como protagonista, uma jovem que celebra seu aniversário de 17 anos em um condomínio de luxo. Apesar de o ambiente parecer calmo, uma ferida emocional começa a crescer dentro da personagem, culminando em um evento trágico que surpreende todos os moradores no dia seguinte.

Embora o filme tenha a intenção de explorar os complexos sentimentos da adolescência, o drama se desenvolve de maneira rasa. A narrativa circula em torno das angústias dos adolescentes, mas não avança para uma discussão mais profunda, o que faz com que a história pareça sem rumo. O fato de o universo do filme estar limitado a um único condomínio reforça essa sensação de confinamento narrativo.

A estrutura do filme é dividida em duas linhas do tempo: uma antes e outra depois do acontecimento principal. As mudanças de cores entre os momentos ajudam a criar uma distinção interessante na ambientação, trazendo uma estética envolvente. No entanto, embora o suspense mantenha o público intrigado durante os primeiros 90 minutos, o ritmo se torna maçante e forçado na reta final. Muitos diálogos e cenas parecem existir apenas para alimentar suspeitas em relação a alguns personagens, mas essa construção não é feita de forma sutil.

A relação entre Virgínia e sua mãe (genial Maria Luísa Mendonça) é um dos aspectos mais fortes da trama. A dinâmica entre elas reflete uma dualidade profunda, quase como se fossem uma só personagem dividida. A atuação da mãe é especialmente expressiva, conferindo camadas emocionais ao filme. No entanto, o clichê da adolescente revoltada que busca apoio nos amigos se mantém presente, sem grandes inovações.

Uma surpresa interessante é o personagem Gabriel (Daniel Botelho), que subverte o estereótipo do “anarquista consciente”. Em vez de ser o típico jovem alternativo com consciência social, ele faz parte de um grupo “redpill”, o que quebra as expectativas habituais para esse tipo de personagem. 

Por outro lado, a falta de diversidade no elenco é evidente, com as únicas personagens negras ocupando papéis secundários: uma como empregada e a outra como amiga de Virgínia, a Luana, interpretada por Mari Oliveira, em um papel sexualizado.

Meu Casulo de Drywall tenta traçar um paralelo entre os machucados físicos de Virgínia e sua depressão, uma abordagem visualmente criativa, mas a doença mental é tratada apenas de forma lúdica, sem aprofundamento. A trama não conseguiu se construir emocionalmente o suficiente para que o desfecho trágico tivesse o impacto esperado.

Ao final, o filme acaba sendo mais uma história sobre os dramas da juventude rica e branca, sem trazer novidades ou uma discussão mais profunda sobre saúde mental. As escolhas visuais, como o uso das cores e a relação mãe e filha, são aspectos positivos, mas o drama em si não atinge o potencial que promete.

Texto por: Biazoly