Oi, querido fujoshi e fudanshi! Bem, hoje eu queria falar sobre a questão de divisão em ukes, semes e a importância imensa que às vezes as pessoas dão a isso. Mas antes de tudo, uma pequena explicação, pois embora a maioria das pessoas já saiba o significado e a utilização desses termos, ainda temos aqueles não muito familiarizados, não?
No mundo do yaoi, “seme” seria o ativo da relação, e “uke”, o passivo. Seme é derivado do verbo japonês semeru (Atacar) e uke do verbo ukeru (Receber). Os termos são originados das artes marciais, e foram apropriados para o contexto sexual.
Nessa divisão entre passivo e ativo, também nasce os maiores clichês das historias boys loves. Nos mangás, animes, doujishins, novels, etc., os personagens costumam ser extremamente estereotipados de acordo com os papeis que desempenham.
Semes geralmente são mais altos, “másculos”, fortes, muitas vezes com personalidades mais decididas, protetoras, experientes, costumam ser ciumentos e imensamente possessivos também. É o estereótipo do “homem” da relação.
Ukes são mais baixos, mais fofos, mas afeminado, facilmente identificados pelos traços característicos e mais delicados, como olhos grandes, uma aparência mais infantil… Muitas vezes, são tímidos, inexperientes, relutantes…
Esse conjunto de características estereotipadas está presente na maioria das historias com conteúdo yaoi, é clichês imenso, sendo bem fácil em varias obras se descobrir de primeira quais dos personagens iria desempenhar cada função. E isso chegou a tal ponto, que pudemos ver essa divisão virar algo quase “sacro” no fandom- alguém acompanhou a época do nyah fanfiction em que brigas, sim brigas gigantescas, estouraram simplesmente porque as pessoas discordavam de quais personagens deveriam ser “seme” ou “uke”?
Felizmente, começaram a surgir alguns questionamentos dentro gênero, de que essa divisão estática de um personagem ser sempre ativo e outro sempre passivo era realmente algo tão importante e essencial do yaoi. Se talvez, essa questão de “uke” e “seme” não estaria sendo imposta mais por ser espelhada em um relacionamento heteronormativo? É realmente necessário que um faça sempre o papel “da mulher da relação”? O quanto essa definição está longe de um relacionamento gay real?
Aos poucos, o cenário yaoi está mudando grande parte graças a esses questionamentos. Embora sejam minoria frente às centenas de títulos clichês criados a cada ano, hoje vemos uma crescente tendência em historias que fujam desses conceitos pré-estabelecidos, mostrando por exemplo, ukes mais velhos, ou mais altos, ou seme mais afeminados…em suma, mudando um pouco o que até então, era uma regra estática definidora do gênero yaoi.
E sendo ainda mais raro, algumas vezes temos personagens que não se encaixam na definição “uke” e “seme”, que inclusive revezam no papel desempenhado por cada um na relação. Esses casos foram apelidados pelo fandom de “sekes”. Algo que foge imensamente da regra geral, e que está aos poucos revolucionando o gênero.
A definição de seke se aplica a personagens que trocam de posição com apenas um par, ou aqueles que podem ser semes ou ukes dependendo do parceiro com quem estão. Infelizmente, esse é um viés que ainda vem engatinhando no yaoi, mas é claro, fico feliz em ver que cada vez mais ele vem se tornando presente. Afinal, estereotipar de forma tão estanque entre “ukes” e “semes”, transformando isso em algo quase imutável, simplesmente não agrega nada na qualidade das historias, ou na verossimilhança do gênero.
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